sexta-feira, 23 de abril de 2010

Branco. Alto. Boa aparência. Bem vestido. Risonho. Características pelas quais todos sonham serem lembrados. Mas ninguém tem vontade de dividir com ele a marca que ele carrega na perna. Ninguem quer ter essa característica marcante. Na verdade, deixar de ter. Ele não tinha a perna. O curativo da amputação recente marcava onde ele tinha um joelho. Pela maneira que ele estava, havia perdido o membro há não mais que 1 mês. E eu passando de ônibus, vi toda aquela alegria daquele sorriso, e ao olhar melhor, vi um par de muletas. Olhei mais abaixo, e não encontrei um par de pernas. Pode ser que ele tenha perdido a perna em um acidente de trânsito,provavelmente não por culpa dele, porque acho que ele não tinha idade para dirigir. Pode ter sido culpa de uma doença, Pode ter sido fruto de uma festa além da conta. Não importa a causa, a consequência será sempre cruel. O que ele perdeu, não foi somente a perna. Junto com ela, se foram oportunidades de emprego, de viagens, de férias. E o máximo que as pessoas fazem é passar ao lado dele, no centro movimentado da cidade, no meio da avenida que leva o nome do estado, e simplesmente olhar. Olhar, e desejar que aquilo nunca aconteça com eles. Porque, mesmo que aquela visão os incomode, já estão acostumados a ver aquilo diariamente nos jornais. Tragédias diárias, na hora do café, do almoço, do jantar. Acostumados a não reagir, acostumados ao sensacionalismo. O infeliz que perdeu a perna, recebe no máximo um "Coitado!". Mas quando alguém morre em algo inflado pela mídia, é aquele alvoroço.Hipocrisia ? Talvez essa seja a palavra certa. Falta de senso ? Melhor ainda. Mas no fundo, não dá pra saber ao certo a culpa de quem. Mas eu sei de uma coisa. Aquele sujeito, atravessando a avenida, me fez pensar muito. E agora vejo, que a perda dele não foi só a perna. Ele perdeu a dignidade. Pois em todos os lugares dessa sociedade ignorante e inútil, as pessoas o olharão como se ele fosse algo recém saído de uma nave espacial.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Eu sei, mas não devia

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

Marina Colasanti

quinta-feira, 25 de março de 2010

quarta-feira, 17 de março de 2010

Dia a dia curto, normal e morto.

A gente tem que tá alerta! Eu já estou debaixo da coberta...
E o medo faz bastante gente se esconder
Lá fora faz um tempo o quê mesmo Zé? Confortável...
Lá fora faz um tempo confortável e a segurança cuida do normal
Não sei dizer o que é mais frio, se é o ar do meu próprio condicionador de ar
Ou se o vento que bate no telhado da casa
Mas, eu saberia dizer se a comparação fosse feita entre uma pedra fria de gelo
E o semblante de todos os assaltantes que andam na cidade escura às escuras
E isso é o normal...
Eu já até sei o que se passa na cabeça dos policias
Eles já estão acostumados a lidar com isso
Sabem todos os esquemas de negociação
Esquemas esses que eu nem sei como eu aprendi
Deve ter sido num desses papos de boteco
Boatos de boteco...
E isso é o normal...
A gente cuida disso também!
Sinuca, cerveja, samba e confusão
Esse é o dia na cidade, antes que escureça
Depois disso ela morre! Volta toda aquela dúvida sobre a temperatura
Não há mais nada vivo...
A não ser as casas que respiram
Como se fossem ursos hibernando toda noite
Se eu olhar pela fresta é como se visse um rastro de z
Cortando o céu, arrancado com aquele vento fraco
Alguns se arriscam caminhando, mas eu não!
E afinal de contas para onde eu iria?
Para o botequim, mas pra que?
Se eu já cansei daquela Brahma gelada, do coro da rapaziada
Da sensação de bem estar e de toda aquela putaria
Eu vou é ficar aqui e esperar a cidade terminar de morrer
Amanhã tudo morre de novo
Esse desânimo, essa noite fria
Esse cansaço, E volta toda a euforia!




Henrique Napolião Barreto
Cansei. Cansei de viver em um mundo onde você deve vasculhar cada corredor, cada beco, cada esquina. Cansei de ter que desconfiar de tudo e todos. Antigamente, se alguém puxava assunto com você na rua, você pensava que poderia ser alguém bem intencionado. Hoje se pensa da seguinte forma: Esse cara só pode querer três coisas. Minha carteira, meu rim ou minha bunda. Cansei de um mundo onde as pessoas na rua são cada vez mais frias, onde, mesmo estando entre mil, você se sente sozinho. Cansei dessa gente que no fundo, adoraria te ver no chão, mas no dia a dia fica bajulando, como se ela se importasse com você. Cansei dessa mídia, dessa moda, que projeta as pessoas para a anecefalia, onde coisas ridículas viram sensação,e o que merece atenção, se ignorado pela mídia, não vira mania, não recebe a atenção merecida. Cansei desses falsos anarquistas, que defendem ideologias radicais, sem terem a MENOR ideia do que se trata. Cansei dos que dizem ser algo, gostar de algo, só pra justificar o que fazem. Pode-se dizer que cansei de tudo. Mas ainda não cansei de ter esperança que isso vai passar.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Não tenho um tema fixo sobre o que escrever aqui. Isso me dá uma certa liberdade , mas ao mesmo tempo a retira de mim. Não preciso falar sempre da mesma coisa ,mas tenho que tomar cuidade para não ficar chato e repetitivo. Não tenho inspiração, como dizem outros, mas tenho a vontade de escrever,Apoio, tenho de poucos. Tento dar valor nos comentários que recebo, não consigo. Tento fazer disso uma obrigação, mas fico horas encarando a tela sem saber o que escrever. Quando criei isso , logicamente , pensava em ficar conhecido, ter vários visitantes, quase um mês depois , não passam de 10 os que acompanham aqui. Vontade de continuar ? Até tenho, embora uma hora ou outra vocâ desanime com algo. Mas sempre há a diferença entre desanimar e desistir.
Chega horas assim , tenho vontade de falar de tudo, não consigo falar de nada. Ao mesmo tempo sei tanto, e tão pouco. Algumas vezes me pego pensando "Vale a pena continuar ? Vale a pena insistir ? ", e percebo que não há regra, é tropeçando que se aparende a andar. Não gosto do que escrevo, embora quem lê fale que é bom. Se tivesse que corrigir isso como prova , não daria mais que 5. Há quem ache que dou pouco valor a mim mesmo, mas no fundo, eu acho que não muito com o que se preocupar.
Nesse nosso mundon tudo segue uma ordem padrão, a maldita rotina. Isso acaba tirando a graça de muita coisa. A mania da atualidade de ver coisas como obrigação. Não se vê mais pessoas fazendo as coisas porque gostam. O lance é ganhar dinheiro. Como se isso adiantasse.
Muitos demoram a perceber que no fundo, como diria Pink Floyd , "somos apenas mais um tijolo na parede". Ou de uma maneira mais direta, simplesmente não fazemos diferença. Se qualquer um de nós morrermos , qual seria a perda para a chamada "humanidade" (que de humana tem muito pouco por sinal) ?
Não há como escapar dessa padronização, já que isto está tão impregnado na nossa cultura que sempre que alguém tenta "sair do eixo" , abrir os olhos dos que estão perto dele, ele é taxado de excluído, sem noção, e tudo o mais que quem lê isso aqui agora sabe muito bem como é. Já passei por isso, por ter uma visão diferente do resto, e simplesmente acho besteira quem vive das aparências , que vive como se fosse O foda, sendo que no fim, sangra como qualquer outro homem e morre como qualquer outro.
Não sei se irão entender o que eu quis dizer, mas para os que entenderem,uma pequena frase, de Tyler Durden "O que você possui, acaba possuindo você".
Pense nisso.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Era pra ser um trabalho de geografia , mas eu gostei , então aqui vai

A situação atual do Haiti, muito comentada por todo o planeta, tem sido alvo de várias campanhas, algumas dizendo que o povo sofre por terem perdido suas casas, outras falam que eles não têm água potável, que o esgoto está a céu aberto. Muitos colocam a culpa no terremoto do dia 12 de janeiro. Mas poucos percebem que a situação já era precária no país, que o terremoto só ajudou a derrubar o que já era podre.
Enquanto se encontram vários anúncios pedindo ajuda para o Haiti, muitos se esquecem de olhar para dentro do próprio país. O Brasil tem seus próprios problemas, alguns até mais graves que os haitianos, mas nunca encontramos placas dizendo “envie dinheiro para ajudar no combate ao tráfico.”. Mas falar do Haiti, ajudar o Haiti se tornou moda entre a mídia internacional. O povo foi dormir no dia 11 de janeiro pensando na corrupção, no aumento da cotação do dólar, entre várias outras coisas, e acordou no dia 12 com um sentimento mútuo de dó e solidariedade pelo povo haitiano. Não há nada melhor que uma grande tragédia para fazer as pessoas esquecerem o que faziam, até mesmo no caso do terremoto, em que a situação lá já era ruim, mas antes ninguém se preocupava.
Quando o governo brasileiro concordou em enviar tropas para participar da MINUSTAH (sigla derivada do francês: Mission des Nations Unies pour la stabilisation en Haïti, em português Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti), houve uma revolta geral contra, dizendo que isto era repressão, invasão, que era tudo menos ajuda. Pois bem, seis anos depois, os mesmos que reclamaram e chiaram , estão hoje defendendo a permanência das tropas, que sem elas não é possível manter o país estável e repetindo o mesmo discurso ao qual eles se opuseram em 2004.
O correto a ser feito no Haiti não é simplesmente enviar rios de dinheiro para lá, sem nem se saber para que será usado, mas ensiná-los a reconstruir uma economia , mesmo que primária , mas estável.
Talvez possamos passar por situações parecidas no futuro, mas devemos aprender com coisas como essa a olhar os nossos problemas, e não deixar que, enquanto cidades como Rio de Janeiro se tornam inabitáveis, a nossa preocupação vá somente para um lugar onde o povo sempre teve problemas de estrutura.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Sem ideias , sem ajuda , não tenho a menor ideia do que escrever. Todo mundo que escreve deve passar por isso . É chato , você tenta falar sobre algo e não sai nada. Passei dois dias sem postar por isso. Hoje eu pensei , ah , foda-se , vou escrever sobre a falta de assunto mesmo. Sei lá , é algo tão comum , mas ao mesmo tempo tão chato. Aqui ao menos , eu poderia disfarçar ali ou aqui , e contornar, mas não ficaria legal. Enfim, não tenho sobre o que falar, e espero que isso não se repita. Para os que visitam o blog, obrigado. Amanhã espero já colocar algo mais 'sólido'.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Tava vendo, atualmente, as pessoas vivem pensando no hoje. Só o hoje importa, o ontem já era, não faz diferença, e o amanhã ainda está longe. As pessoas não almejam nada, não se preocupam em como podem estar amanhã, só lembram de estar bem hoje. Não se vê mais pessoas dizendo que daqui dois meses pretende fazer tal coisa, ir em tal lugar. No máximo, surge algo do tipo, 'Semana que vem vou no shopping', e por aí vai. Não se vê mais pessoas com projetos, para elas, se der certo, deu, simples assim. Não se encontram mais pessoas com ambições, são raros os casos de alguém que almeja algo e se esforça para alcançar aquela meta.
Mais difícil ainda de se ver, é alguém que se preocupa com o amanhã dos que estão próximos à ele. Muito fácil é esnobar quem tá alí do seu lado. Pessoas esquecem que quem ta alí, te apoiando, tá ali porque se preocupa com elas. Se preocuparam ontem, se preocupam hoje e se preocuparão amanhã, ao contrário delas mesmas , que não tão nem aí.
Antigamente , se ouviam histórias de pessoas que largavam tudo em busca de um sonho ou projeto. Que mundo é esse , onde ninguém mais sonha ?

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Quem é que liga se aparece mais um no ramo ? Ninguém tá nem aí se algo acontece com 'concorrentes' , se é que é certo chamar de concorrentes . Enfim , meu primeiro texto , não sei o que vai sair , já penso em fazer isso há muito tempo , mas só agora criei coragem . Porque ? Não sei , se descobrir me fala. Não sei bem sobre o que falar , nem sobre o que isso vai ser , mas quem se importa ? O que vale é se o que vai sair presta . Será que vai prestar ? Isso você que vai saber , porque eu não sei . Enfim , esse é meu início . Como se fizesse diferença ...