quinta-feira, 31 de março de 2011

Minha mãe não entenderia

Quem sabe o que se passa, se sabe o que sofre. Quem sofre, tenta evitar o sofrimento de outros. Conseguir, de fato, poucos conseguem. Alguns escondem.
Sofre, sensibilidade ? O que é sofrer ? É se incomodar ? Se importar ? Ou será simplesmente mais um disfarce social ? Será que sofreríamos, sentiríamos, em um mundo sem leis e restrições "morais" ?
Mais uma de nossas máscaras sociais, nossas aleatoriedades desviadas, falsidades psicológicas. Sentimos falta de alguém, somos forçados a sentir, ou simplesmente fingimos sentir pra podermos parecer "bons amigos" ?
Hipócritas socias, abandonados por si mesmos na correnteza da mediocridade humana.

terça-feira, 29 de março de 2011

Reencontro





Morava sozinho. Visitas semanais de uma irmã velha, doente e triste. Eu, nas minhas passeadas, sempre procurando um norte, nunca encontrado. nunca trabalhei, embora fosse formado em direito. Vivia com a pequena fortuna deixada pelos meus pais, com a qual comprei uma casa na qual morava na epóca destes acontecimentos. Minha irmã, hoje falecida, era alguns anos mais velha do que eu. Quatro, cinco, seis anos. Não me lembro. Após a morte de seu marido, vítima de uma doença então inexplicável, ela fechou as portas e janelas. A luz de um arco-íris se transformou na escuridão de uma cova. Sua única ligação com o sentido que muitos dão à palavra humanidade, era um filho, nascido pouco antes da partida de seu marido. Mas a Morte é sorrateira. Tenta nos carregar pra dentro de seu negro manto. Rumo ao frio que não se esquenta, a tristeza que não se alegra, o precipício que não termina. Não tardou, seu filho partiu para a melhor. Ou pior. Ou simplesmente morreu. A vela que um dia havia sido fogueira, se apagou de vez.
Você pode pensar que é estranho eu falar tanto de minha irmã, e tão pouco de mim, mas lembre-se que em momento algum eu disse o que aconteceria, nem com quem aconteceria. Minha irmã era a única capaz de passar pelo que passou, a única capaz de saber o que fazer. Uma pena que tenha acontecido daquela maneira.
Era verão, chovia, mais do que o normal. O frio começava a chegar, lento e decidido. Minha irmã havia chegado para mais uma de suas visitas. Ela dizia que vinha cuidar de mim. Mas eu penso que no fundo, ela vinha em busca de ter mais alguém, preenchendo o vazio de uma vida despedaçada pelos males de um mundo hostil.
Ela nunca havia me explicado a causa da morte de seu filho. E eu nunca perguntei, até porque sabia que isso doía em seu coração.
Uma noite,, estavamos sentados à beira do lago, quando do nada, como se as estrelas estivessem ali, surgiu uma forte luz no fundo do lago. A luz tomou forma. Eu já não entendia nada. Minha irmã conversava com ela mesma, só queu ma reflexão juvenil, alegre, com brilho nos olhos.
A reflexão falava de acidente, que ela não deveria se culpar. Que minha minha irmã havia se tornado uma velha cheia de arrependimentos, esperando pra morrer sozinha. Minha irmã chorava, dizia que a culpa era sim dela, e foi pra dentro de casa.
A luz se apagou, e junto com ela a luz fraca de um poste que nos iluminava. Logo depois, em meio à escuridão e ao frio, ouvi um tiro. Não sei quanto tempo se passou até que reagi ao som, dez, quinze, vinte minutos. Encontrei um bilhete com a mensagem "Acorde. Te vejo do outro lado". Entrei no quarto, minha irmã esticada na cama, de olhos abertos. Momentaneamente, seus olhos brilharam.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Achado

Encontrei uma folha nos materiais do ano passado. Penso que foi em uma aula de filosofia, sei lá. Escrevi e não quis entregar. Tá aí.


"Há várias formas de se analisar a sociedade atual. Se me perguntassem, eu diria que vivemos em uma era de superficialidades, de inutilidades. Onde cultura é inútil e o inútil é cultura, Onde saber que dois mais dois são quatro não serve para nada, se você não souber o último capitulo da novela."

terça-feira, 8 de março de 2011

Animais

Assombrados pelas personalidades. Neurônios queimados. Idiotas sociais. Massa controlada. Ataques publicitários. Interesses irrelevantes. Sozinhos enquanto acompanhados.

domingo, 6 de março de 2011

Aniversário

Um ano a mais, um ano a menos. 12 meses. 52 semanas. 365 dias e algumas horas. Um ano a mais de vida. um ano a menos de vida. 12 meses de namoro. 52 semanas de sobrevivência. 365 dias de espera. Algumas horas de sentido. Uma contagem que não para, aumenta a cada momento.
Um hábito imposto para controle, quanto mais se tem, menos se pode. Um número que , por mais que não seja de nossa vontade, nos define perante os outros. Define o respeito que merecemos, define o quanto podemos ver, o quanto podemos saber. Quando se tem pouco, se quer muito. Quando se tem muito, se sonha com pouco.
A eterna contradição humana, colocando limitações em coisas naturais. Esperamos pelo dia em que somos lembrados, e comemoramos um ciclo a mais entre as pessoas. Isso é motivo pra comemoração ou tristeza ? Estar por aqui é privilégio ou castigo ? Sonhamos com outras vidas, com medo de que nossa contagem simplesmente chegue ao fim. Medo do fim da contagem, mas ao mesmo tempo, medo de perder a conta.
Alterações constantes, motivações descartáveis. Isso é nossa vida, e ela está acabando um minuto de cada vez. Ou não.
Per aspera ad astra

sexta-feira, 4 de março de 2011

Juventude

Dentro de uma jaula, pesadelo constante. Rodavia da superinformação, atolados no acostamento, rebeldes sem uma missão, idealizados pela falta de ideais. Soltos em uma selva que castiga sem perdão, num mundo esquecido pela razão.
Razão, ação, papelão, educação, falta de informação. Todos são iguais, ao mesmo tempo em que todos são diferentes.
Opostos que se atraem, semelhantes que se opoem. Inúteis, úteis, idiotas, espertos. Ignorados, ignorantes. Esquecidos que não se esforçam para lembrar.
Não se para, não se pensa, objetivos em comum, caminhos diferentes, sentidos opostos.
Humor forçado, tentando ser engraçado aos olhos das pessoas. Simpatia antipática, se escondendo atrás da hipocrisia diária, se tampando, em busca da auto afirmação.
não conseguem olhar ao redor sem ajuda, uma série sem manual de instruções, apertando todos os botões, numa tentativa de se conhecer, quando na verdade, o que precisavam saber está dentro de suas mentes.
Uma geração manipulada, alienada, crescendo sem saber para onde ir, presos nessa eterna estrada que é a vida.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Alegorias Psicológicas

O pior inimigo de um homem é sua mente, e o que ela pode criar. Ao que me lembro, eu estava dentro do ônibus, voltando para casa, após mais um longo dia de aula. Estava sozinho no ônibus, sentado num dos últimos bancos. Era um dia como qualquer outro,não chovia, embora parecesse que o céu cairia dentro de algumas horas. Só havia além de mim no ônibus, um homem de terno e maleta, com aparência de grande empresário. A príncipio ignorei o fato de ele estar em um ônibus, mas ignorei. Coloquei meus fones de ouvido, liguei minhas músicas, num dos poucos momentos livres que tenho em meus dias.
Não demorei a cair no sono, já acostumado com o trajeto, sempre acordava um pouco antes de meu ponto. Não neste dia. Acordei num lugar escuro, com cheiro de mofo e poeira. Após tatear um pouco e bater a cabeça em algumas prateleiras, achei um interruptor. Apertei um botão, uma fraca luz surgiu no chão, como que formando uma linha, dando um tom sombrio ao quarto, que parecia abandonado há decádas. A parede na qual se encontrava a porta, sob a qual desaparecia a tal luz, era toda coberta por um espelho, desgastado pelo tempo. Apesar dos maus-tratos da idade, era um espelho bonito, e ao contrário do resto do quarto, estava bem limpo. No espelho, havia uma frase, escrita com algo que eu não pude identificar, devido à fraca iluminação. A frase dizia " Agora seu pesadelo toma vida."
Assustado, abri a porta, a pequena linha luminosa recomeçou seu caminho, como se esperasse pela minha presença. Percebi que estava em um corredor, mas este não tinha teto. Olhando para cima, vi nuvens carregadas, das quais caíam gotas pesadas e tempestuosas, numa sinfonia macabra com os raios e trovões. Corri pelo corredor, passando sempre por espelhos com a mesma mensagem, até que vi um com uma mensagem diferente, que dizia " Aquele que faz uma besta de si mesmo, se livra da dor de ser um homem". Pensando ter entendido a mensagem, chutei o espelho, quebrando-o. A linha luminosa invadiu o quarto, revelando um silhueta de uma pessoa. Reconheci ali o empresário que estava no ônibus, que sacou uma pistola de sua maleta, e se matou.
Invadi o quarto, num movimento espontâneo, como se tentasse evitar o suícido. Escutei o som do espelho se remontando atrás de mim. só então percebi que, quem quer que fosse aquele homem, eu o havia libertado ao assumir seu lugar.
Desejos, lembranças, planos de uma vida incompleta, enquanto espero ser liberto e acordar naquele mesmo ônibus, ouvindo as mesmas músicas.
O pior inimigo de um homem é sua mente, e o que ela pode criar.