quinta-feira, 31 de maio de 2012

Por uma janela

Aqui é tão claro. Mas logo ali fica tão escuro. E logo à frente, uma mistura de sombra e luz, fumaça e poeira. Fumaça e poeira, sombra e luz, ouro e suor. Era tudo tão esperado. Era tudo tão descolado. Era tudo proibido. E agora? "Todo mundo deseja o que não tem". Mas não era não ter. Poderia ter. Mas toda a proibição social torna tudo mais divertido, atraente. Por uma janela, não via seus sonhos. Via um reflexo sujo e embaçado de si mesmo. Um reflexo tão diferente do que se vê em um espelho. Uma expressão que antes não seria capaz de se imaginar tendo. Canta tanto as mesmas canções, pensa tanto as mesmas reflexões. Ouvindo pampa no iPhone. Pampa, Sampa, tanta pompa, buraco sem uma tampa. Faculdade, tantas janelas. Rua, sala, quarto, cama, sono. Não era esse o itinerário programado. Por uma janela, eu via uma sala. Essa sala tinha suas próprias janelas, que dariam vista a tantos outros lugares. Não tinha idéia de como chegar nessa sala. Todos desejavam tal sala. Era tão desejada, acabou sendo desejada por mim também. Já almejei salas maiores, mas riram de mim quando contei minhas ambições. Mudei de sala, quebrei as janelas, não pedi mais opiniões. Não acreditavam, não acreditam. Eu não acreditava também. Acreditar era tão complicado. Sempre foi tão mais fácil só "ir". Mas ir ficou tão deprimente, sem fé nenhuma. Um condicionador de ar resfria a sala. Mas já é tão frio lá fora. Tão frio, úmido, escuro. Tão fora. A luz me passa um conforto, uma segurança inexplicável. Mas toda fonte de luz me parece tão frágil, tão pequena. Toda fonte de luz, todo tanto de luz. Seguro. Mas longe. Quatro extremidades de um mesmo corredor. É reto, é linear, é direto. Deveria ser tão simples, fazer tanto sentido. O final dele é logo ali. Mas há algum tempo o logo ali não parece tão logo assim. "Nem tão longe que eu não possa ver, nem tão perto que eu possa tocar". Ao longo desse corredor, alguns enfumaçados, outros com fígados dourados, narinas de leite em pó, veias de adrenalina. Nada disso me interessa. Mas nem nisso acreditam. "Você vai aprender, menino". Caralho, eu não quero aprender. Seria tão bom poder não mudar, ter um corredor com minhas janelas, e não ser um passageiro em um trem que não leva a lugar algum. Goiânia é muito grande pra quem não tem ambição. Pra quem sabe o que quer, ela cabe na palma da mão. Em 94, o Brasil era tetra, e os brasileiros eram patriotas. Em 2012, não se sabe nome de ministros, votos são por obrigação, e patriotismo é amistoso com os "states". Quantas bananas eles terão que jogar em nossas cabeças até que aprendamos? Começo falando de mim. Termino falando de ninguém. Nunca termino, não sei quando começo. Ponto final vira vírgula, um silêncio, reticências. De tantas certezas, quais ainda tem? Amigos, ações, reações, curvas do corredor. Tudo fica pra trás. Será que fica? Será que não? "O que tiver de ser, será"? Não há muito para ser então. Tolos jovens nostálgicos, quebrando janelas com os entulhos de suas próprias esperanças.