sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Sobre sóis e chuvas

Então eu penso
Talvez seja mais fácil
Apenas tentar esquecer
Esquecer, e não sofrer.

No mesmo lado, o mesmo dado
Várias caras, mas sempre viciado.
Viciar não é poder, poder não é querer
Querer não é ter, e ter é saber, que no fim
Nenhum de nós vai esquecer.

Um brilho no olhar. Subversão na submissão.
Longe demais, vontades a mais, humanos ou animais.
Vira a noite pensando no que fazer
Tentando disfarçar o que está marcado.
Buscando esconder as dores, por trás de suas ruínas.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

" e se lembrou de quando era uma criança,
e de tudo que vivera até ali.
e decidiu entrar de vez naquela dança.
se a via-crúcis virou circo, estou aqui."

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Reise, Reise

Um clique. O tempo pára. Um garoto prestes a chuta a bola. Uma gota de suor congelada ao cair do cabelo. A raiva no olhar. Parece voar, naquele breve momento em que não pensa em nada.
Uma menina. Mãos no cabelo. Nervosismo no olhar. Quer que a bola entre, para poder comemorar. Mas tanta coisa pode acontecer. Sua respiração parece ter parado, seu coração em silêncio, esperando.
Um zagueiro pula na frente da bola. Ele tem medo, de seu bote ser incerto. É uma aposta, e ele sabe que o risco é alto. Ele se prepara pro impacto que pode nunca acontecer.
Um breve momento, um piscar de olhos. Tudo pode acontecer. E acontece. Tudo pode mudar. E muda. A bola pode bater no zagueiro. Ele pode se perder no olhar da menina e errar. O goleiro pode defender. Ele pode tropeçar. Ou pode simplesmente acertar e fazer o gol.
O suor irá pingar, ele irá comemorar, a menina irá gritar. Tudo se levanta, dentre as várias possibilidades.
E o mundo continua a girar.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Same Old Fears

O que dizer, o que fazer. O que pensar, como agir. Onde olhar, o que admirar. E de qualquer jeito, você estará errado. Medo do escuro. do que tem embaixo da cama. Medos que não são superados, são apenas disfarçados com outros nomes.
O medo do escuro, se torna medo do claro. As pessoas podem ver, podem te entender mal. É tão mais simples se esconder.
O medo do que tem embaixo da cama, se torna o medo do que tem em cada esquina, atrás de cada porta, dentro de cada carro, montado em cada moto. Medo do desconhecido, do que não entendemos.
Medo de olhar nos olhos, vai que conseguem ver nossas podres mentes através deles.
Ficamos velhos, com os mesmos velhos medos. Mesmos medos, diferentes sonhos. Não somos os mesmos.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Tentativa de Libertação - Dia 149

Cinza, o sol não está lá fora. não venta, parece frio. Mas estamos todos suando. Talvez não todos. Mas eu estou. Mas não sei como está lá fora, não consigo sair. Aqui está frio, mas é bem provável que seja só psicológico.
Olho para os outros, tento entender o que eles sentem. Não consigo, são caras fechadas como cofres, os quais talvez nem os próprios donos saibam a combinação. Mas o que somos, além de cofres isolados uns dos outros, em eterna quarentena ?
Pode chover, secar, ventar. Nada muda. Fracos, todos somos. Sozinhos, mas sempre acompanhados.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O Teto

Você se deita, olha para cima, vê um teto. Talvez não haja nada de tão especial nele. Ele sempre esteve ali. Por mais inconsciente que seja, você sabe que esse teto está ali, para te proteger do vento e da chuva, do calor e do sol. Você nunca imaginou como seria sua vida sem este teto, você nunca pensou que um dia ele poderia cair. Até que um dia ele cai. Motivos idiotas, talvez até sem motivo. Mas caiu. Agora você sente o vento, se molha na chuva. Mas em meio aos destroços, do que parecia eterno, você olha para cima, ao se deitar, e percebe, que agora, consegue ver as estrelas.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Pois um dia, até o pior dos diabos irá chorar.

Será ?

Uma vez, quando eu era um criança, me perguntaram o que eu queria ser quando crescesse. Eu respondi que seria rico e teria uma Ferrari aos dezoito anos de idade. Não entendia o que era ser rico e ter uma Ferrari.
Alguns anos depois, a mesma pergunta. Dessa vez eu disse que queria ser um médico, para melhorar o mundo. Não entendia que esse mundo não tem cura.
Me repetem a pergunta, e eu digo com convicção que serei advogado. Mas me lembro de todas as outras vezes que sonhei com tant convicção e certeza, e terminei desiludido. Não haveria ali algo que ainda não consegui entender ?

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A Mente

Pesadelo. Relevos instáveis dos desfiladeiros de nossas consciências. Escuros e ocultos. Um lugar sem lei, sem vigilância. Aquilo que nos torna humanos. Filhos de Adão, assassinos de Abéis. Uma longa parede de tijolos, na qual cada fresta, cada sombra, cada rachadura, é o que nos define. A podridão que escondemos sob o brilho de um falso sorriso amarelo, dos protocolos da convivência social.
Grandes cômodos, repletos de sonhos que ficaram pra trás, amores que não tiveram resposta, o argumento que não foi usado naquela discussão, as decisões que tomamos, as mágoas que criamos, tudo guardado, em salas mofadas e empoeiradas, mas que ainda assim sempre nos pertuba.
Um pequeno jardim, que cresceu à sombra do muro, pequeno e tímido, incapaz de crescer em meio à tanta escuridão e falsidade.
Nuvens, tampando o Sol, trazendo o frio e as incertezas, sempre chovendo.
Um rio de gelo e fogo, se arrastando pelos abismos, carregando as tristezas para seus cômodos. Calor e frio ao mesmo tempo, indecisão e certeza, raiva e perdão, amor e ódio, compania e solidão.
Pesadelos, sombras, arrependimentos, pequenas alegrias, desilusões e contradição. A mente humana.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Um estrangeiro

Dançando com a morte, um passageiro desse trem. Doenças e doentes nos observam a cada esquina. Esquinas da rua em que passamos, mas seu nome não sabemos.
Gregos e troianos, palmeirenses e corinthianos, americanos e iranianos. Orgulho ferido, concorrência violenta.
Uma foto em preto e branco mofa na parede. Apesar do mofo, dos amassos e das traças, o tempo para aquela foto é o mesmo. E nós caímos nessa curta vida. Uma legião de Dorians invertidos ?
Um pedaço de carvão no lugar de um coração. Fuligem no lugar de palavras. Cinzas por sentimentos. As brasas que logo se apagam.
A crise dos sistemas. Inspiração nas estrelas. Estrelas ocultas em meio à poluição. Já não tão imponentes, prepotentes. Incompetentes.
Armas que destroem corpos. Ideias que estilhaçam almas. O lado negro
Cores em excesso, cérebros em regresso.
Um canivete na mão errada, a morte. Na mão certa (dita certa por quem ? ), salvação.
Pequenos pontos em meio à multidão. Pequenas dores no falso coração.
Não paramos, não falamos, não mudamos. Comboio de estrangeiros, individuais, soltos em uma tentativa de acender o carvão. Talvez sim, talvez não. Sabemos tanto sem saber de nada. Dias e estrelas. Dinossauros e humanos. Música e o silêncio. O desespero do fim, o medo da meia-noite.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Detalhes.

Um buraco na meia.
Um descolado no sapato.
Uma camisa que já é feia.
Um mofado no retrato.

Dois irmãos que não se falam.
Dois cachorros que se mordem.
Dois carros que se batem.
Dois casais que se separam.

Três cores formam todas.
Três horas para o fim do dia.
Três pessoas que parecem toscas.
Três mortes da alegria.

Quatro estrofes, com quatro versos.
Quatro diferentes sentidos perversos.
Quatro câmeras nos observam com frequência.
Quatro palavras para que cesse a decência.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Vícios,problemas e chuva.

Todos nós temos. Todos nós escondemos.
Todos nós choramos. Todos nós escondemos.
Todos nós tememos. Todos nós escondemos.
Todos nós amamos. Todos nós escondemos.
-Afinal, existe algo que não escondemos ?

Remédios

Pra acordar. Pra despertar. Pra funcionar. Pra comer. Pra digestão. Pra não dar sono. Pra bater na dor. Pra chegar em casa. Pra comer. Pra dar sono. Pra dormir

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Cheio, gasto, estufado e cansado

-A mesma tecla. As mesma ideias. Os mesmos argumentos. As mesmas faces de duas moedas opostas. Atração pelo proibido. Proibido por quem ? Por aqueles que vieram antes. Quem deu a eles o poder ? Quem lhes deu a autorização para mandar em nossas vidas ?
-Nascemos, crescemos. Recebemos um mundo podre. Não podemos mudá-lo, porque alguém que viveu há séculos definiu que isso era ilegal. Mas ser mudado pela podridão é aceitável. Muda, é reacionário. É mudado, alienado, mas aceito. Quem disse que aceitação é bom ? Quem disse que ser mais uma ovelhinha no pasto do monopólio é legal ?
-Conceitos pré-definidos,subversivos. Inquestionáveis. Um retorno à Caverna de Platão.
Cheio. Um caderno de dez matérias em ano de vestibular.
Gasto. Um orelhão em porta de puteiro.
Estufado. Um bêbado na manhã de segunda-feira.
Cansado. Um atleta em final de campeonato.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Tentativa de Libertação. Dia 1

=Indivíduos coletivos. Sem inspiração. Sono, desgaste físico de uma rotina pesada. Rotina pesada, padronizada.
-Sono reprimido. Sonhos acmulados. Acho que vou dormir. Aqui termina o Dia 1

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Liberação, aglutinação. Rebelião, reação. Amor, ódio. Coesão, caos. A seta que deveria unir, mata. Cupido sarcástico. Ironia mútua.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Um brilho momentâneo.
A esperança de uma vida.
Uma forma de protesto.
Maneiras de expressão.
Alienação auricular.
Afastamento espontâneo.
Constante retrocesso.
Tempo gasto.
Tempo investido.
Opiniões contrárias.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Eu sempre tive sonhos,
mas eles insistem em derrubá-los,
leves como uma pena,
o que parecia sólido cai,
com a leve brisa da ignorância e submissão.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Minha mãe não entenderia

Quem sabe o que se passa, se sabe o que sofre. Quem sofre, tenta evitar o sofrimento de outros. Conseguir, de fato, poucos conseguem. Alguns escondem.
Sofre, sensibilidade ? O que é sofrer ? É se incomodar ? Se importar ? Ou será simplesmente mais um disfarce social ? Será que sofreríamos, sentiríamos, em um mundo sem leis e restrições "morais" ?
Mais uma de nossas máscaras sociais, nossas aleatoriedades desviadas, falsidades psicológicas. Sentimos falta de alguém, somos forçados a sentir, ou simplesmente fingimos sentir pra podermos parecer "bons amigos" ?
Hipócritas socias, abandonados por si mesmos na correnteza da mediocridade humana.

terça-feira, 29 de março de 2011

Reencontro





Morava sozinho. Visitas semanais de uma irmã velha, doente e triste. Eu, nas minhas passeadas, sempre procurando um norte, nunca encontrado. nunca trabalhei, embora fosse formado em direito. Vivia com a pequena fortuna deixada pelos meus pais, com a qual comprei uma casa na qual morava na epóca destes acontecimentos. Minha irmã, hoje falecida, era alguns anos mais velha do que eu. Quatro, cinco, seis anos. Não me lembro. Após a morte de seu marido, vítima de uma doença então inexplicável, ela fechou as portas e janelas. A luz de um arco-íris se transformou na escuridão de uma cova. Sua única ligação com o sentido que muitos dão à palavra humanidade, era um filho, nascido pouco antes da partida de seu marido. Mas a Morte é sorrateira. Tenta nos carregar pra dentro de seu negro manto. Rumo ao frio que não se esquenta, a tristeza que não se alegra, o precipício que não termina. Não tardou, seu filho partiu para a melhor. Ou pior. Ou simplesmente morreu. A vela que um dia havia sido fogueira, se apagou de vez.
Você pode pensar que é estranho eu falar tanto de minha irmã, e tão pouco de mim, mas lembre-se que em momento algum eu disse o que aconteceria, nem com quem aconteceria. Minha irmã era a única capaz de passar pelo que passou, a única capaz de saber o que fazer. Uma pena que tenha acontecido daquela maneira.
Era verão, chovia, mais do que o normal. O frio começava a chegar, lento e decidido. Minha irmã havia chegado para mais uma de suas visitas. Ela dizia que vinha cuidar de mim. Mas eu penso que no fundo, ela vinha em busca de ter mais alguém, preenchendo o vazio de uma vida despedaçada pelos males de um mundo hostil.
Ela nunca havia me explicado a causa da morte de seu filho. E eu nunca perguntei, até porque sabia que isso doía em seu coração.
Uma noite,, estavamos sentados à beira do lago, quando do nada, como se as estrelas estivessem ali, surgiu uma forte luz no fundo do lago. A luz tomou forma. Eu já não entendia nada. Minha irmã conversava com ela mesma, só queu ma reflexão juvenil, alegre, com brilho nos olhos.
A reflexão falava de acidente, que ela não deveria se culpar. Que minha minha irmã havia se tornado uma velha cheia de arrependimentos, esperando pra morrer sozinha. Minha irmã chorava, dizia que a culpa era sim dela, e foi pra dentro de casa.
A luz se apagou, e junto com ela a luz fraca de um poste que nos iluminava. Logo depois, em meio à escuridão e ao frio, ouvi um tiro. Não sei quanto tempo se passou até que reagi ao som, dez, quinze, vinte minutos. Encontrei um bilhete com a mensagem "Acorde. Te vejo do outro lado". Entrei no quarto, minha irmã esticada na cama, de olhos abertos. Momentaneamente, seus olhos brilharam.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Achado

Encontrei uma folha nos materiais do ano passado. Penso que foi em uma aula de filosofia, sei lá. Escrevi e não quis entregar. Tá aí.


"Há várias formas de se analisar a sociedade atual. Se me perguntassem, eu diria que vivemos em uma era de superficialidades, de inutilidades. Onde cultura é inútil e o inútil é cultura, Onde saber que dois mais dois são quatro não serve para nada, se você não souber o último capitulo da novela."

terça-feira, 8 de março de 2011

Animais

Assombrados pelas personalidades. Neurônios queimados. Idiotas sociais. Massa controlada. Ataques publicitários. Interesses irrelevantes. Sozinhos enquanto acompanhados.

domingo, 6 de março de 2011

Aniversário

Um ano a mais, um ano a menos. 12 meses. 52 semanas. 365 dias e algumas horas. Um ano a mais de vida. um ano a menos de vida. 12 meses de namoro. 52 semanas de sobrevivência. 365 dias de espera. Algumas horas de sentido. Uma contagem que não para, aumenta a cada momento.
Um hábito imposto para controle, quanto mais se tem, menos se pode. Um número que , por mais que não seja de nossa vontade, nos define perante os outros. Define o respeito que merecemos, define o quanto podemos ver, o quanto podemos saber. Quando se tem pouco, se quer muito. Quando se tem muito, se sonha com pouco.
A eterna contradição humana, colocando limitações em coisas naturais. Esperamos pelo dia em que somos lembrados, e comemoramos um ciclo a mais entre as pessoas. Isso é motivo pra comemoração ou tristeza ? Estar por aqui é privilégio ou castigo ? Sonhamos com outras vidas, com medo de que nossa contagem simplesmente chegue ao fim. Medo do fim da contagem, mas ao mesmo tempo, medo de perder a conta.
Alterações constantes, motivações descartáveis. Isso é nossa vida, e ela está acabando um minuto de cada vez. Ou não.
Per aspera ad astra

sexta-feira, 4 de março de 2011

Juventude

Dentro de uma jaula, pesadelo constante. Rodavia da superinformação, atolados no acostamento, rebeldes sem uma missão, idealizados pela falta de ideais. Soltos em uma selva que castiga sem perdão, num mundo esquecido pela razão.
Razão, ação, papelão, educação, falta de informação. Todos são iguais, ao mesmo tempo em que todos são diferentes.
Opostos que se atraem, semelhantes que se opoem. Inúteis, úteis, idiotas, espertos. Ignorados, ignorantes. Esquecidos que não se esforçam para lembrar.
Não se para, não se pensa, objetivos em comum, caminhos diferentes, sentidos opostos.
Humor forçado, tentando ser engraçado aos olhos das pessoas. Simpatia antipática, se escondendo atrás da hipocrisia diária, se tampando, em busca da auto afirmação.
não conseguem olhar ao redor sem ajuda, uma série sem manual de instruções, apertando todos os botões, numa tentativa de se conhecer, quando na verdade, o que precisavam saber está dentro de suas mentes.
Uma geração manipulada, alienada, crescendo sem saber para onde ir, presos nessa eterna estrada que é a vida.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Alegorias Psicológicas

O pior inimigo de um homem é sua mente, e o que ela pode criar. Ao que me lembro, eu estava dentro do ônibus, voltando para casa, após mais um longo dia de aula. Estava sozinho no ônibus, sentado num dos últimos bancos. Era um dia como qualquer outro,não chovia, embora parecesse que o céu cairia dentro de algumas horas. Só havia além de mim no ônibus, um homem de terno e maleta, com aparência de grande empresário. A príncipio ignorei o fato de ele estar em um ônibus, mas ignorei. Coloquei meus fones de ouvido, liguei minhas músicas, num dos poucos momentos livres que tenho em meus dias.
Não demorei a cair no sono, já acostumado com o trajeto, sempre acordava um pouco antes de meu ponto. Não neste dia. Acordei num lugar escuro, com cheiro de mofo e poeira. Após tatear um pouco e bater a cabeça em algumas prateleiras, achei um interruptor. Apertei um botão, uma fraca luz surgiu no chão, como que formando uma linha, dando um tom sombrio ao quarto, que parecia abandonado há decádas. A parede na qual se encontrava a porta, sob a qual desaparecia a tal luz, era toda coberta por um espelho, desgastado pelo tempo. Apesar dos maus-tratos da idade, era um espelho bonito, e ao contrário do resto do quarto, estava bem limpo. No espelho, havia uma frase, escrita com algo que eu não pude identificar, devido à fraca iluminação. A frase dizia " Agora seu pesadelo toma vida."
Assustado, abri a porta, a pequena linha luminosa recomeçou seu caminho, como se esperasse pela minha presença. Percebi que estava em um corredor, mas este não tinha teto. Olhando para cima, vi nuvens carregadas, das quais caíam gotas pesadas e tempestuosas, numa sinfonia macabra com os raios e trovões. Corri pelo corredor, passando sempre por espelhos com a mesma mensagem, até que vi um com uma mensagem diferente, que dizia " Aquele que faz uma besta de si mesmo, se livra da dor de ser um homem". Pensando ter entendido a mensagem, chutei o espelho, quebrando-o. A linha luminosa invadiu o quarto, revelando um silhueta de uma pessoa. Reconheci ali o empresário que estava no ônibus, que sacou uma pistola de sua maleta, e se matou.
Invadi o quarto, num movimento espontâneo, como se tentasse evitar o suícido. Escutei o som do espelho se remontando atrás de mim. só então percebi que, quem quer que fosse aquele homem, eu o havia libertado ao assumir seu lugar.
Desejos, lembranças, planos de uma vida incompleta, enquanto espero ser liberto e acordar naquele mesmo ônibus, ouvindo as mesmas músicas.
O pior inimigo de um homem é sua mente, e o que ela pode criar.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011