quinta-feira, 20 de setembro de 2012

nublado, chuvisco e prédios

Menina, olhando para esse céu eu lembro de você. Eu lembro das esquinas. Eu lembro dos carros. Eu lembro da chuva. Lembro dos seus olhos.
Menina, há anos não te vejo. Não vamos mais às mesmas aulas. Não pegamos mais os mesmos ônibus. Menina, há anos não te esqueço. Sempre me lembro de você, olhando para esse céu nublado, de todo fim de Setembro. Não passo por aquela rua sem me lembrar de quando eu descia ela com você. Todo fim de tarde, menina. Três vezes por semana. E você ainda me fazia a graça de faltar.
O que aconteceu, menina? Eu prometi não sumir. A escola já não está mais lá. Eu saí de lá, me formei. Já não vou lá há algum tempo. Faço hoje o curso que dizíamos querer. Estou hoje onde dizia querer estar. Sou hoje quem eu queria ser. Mas não, menina. Nada correu como eu queria. Nada nunca corre como queremos.
Eu te encontrei há algum tempo. Você me disse ainda querer as mesmas coisas. Me disse ainda ter os mesmos planos. Me disse ainda ser a mesma pessoa. Não queria, não tinha, não era.
O que aconteceu, menina? O que foi feito de nós? O que nos tornamos? Você prometeu ligar. O que sobra é a dúvida.
Não olho para esse céu sem pensar no que foi. Não vai voltar, menina. Nada volta. Nunca. O que sobra é a memória. A memória das tardes, das esquinas e dos prédios. Eu espero te encontrar por aí, numas dessas trombadas que a gente sempre dá com velhos conhecidos. E espero que não sejamos tão velhos conhecidos assim.
É nessa época, é nesse céu de setembro-quase-outubro que eu sinto sua falta. Que passo naquela mesma rua, e me lembro de te ver de costas, subindo no último ônibus. Você não olhou para trás. Ou olhou. Ninguém olha. Eu olhei. E te vi, mais uma vez, uma última vez, em mais um fim de tarde, entre o nublado, o chuvisco e os prédios.

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